Continuando o estudo da perícope de Atos 9:
1-22, veremos hoje a sociedade nos tempos de Paulo. No próximo tópico de nossa
pesquisa daremos enfoque na região de então. Assim, ao término do ensaio
teremos uma abordagem histórico-social no livro de Atos.
Capítulo 2 – A
sociedade de Israel nos tempos de Paulo
A sociedade nos
tempos de Paulo era constituída por um misto de culturas, religiões e
convicções políticas, ora mantidas dos costumes judaicos, ora oriundas de Roma.
Não se pode
dessa forma desmembrar os grupos que compunham Israel no século I sem adentrar
ao campo da política uma vez que tudo para esta sociedade apresentava cunho
político.
Segundo a óptica
de Robert GUNDRY, em seu livro, Panorama do Novo Testamento, p. 23 e 29
pode-se vislumbrar um pouco melhor a sociedade de então:
“4 milhões de judeus viviam sob o domínio deste
vasto Império, o que representava ± 7% da população total do mundo romano
[...]. Havia portanto um grande número de habitantes judeus naquela época, dos
quais a sua grande maioria, principalmente na região da Palestina, era pobre e
em geral alguns eram lavradores e outros porém viviam do comércio e da pesca.
A escravidão entre os judeus não era uma prática muito grande pois a maioria dos judeus palestinos eram tidos como cidadãos livres. Na sociedade judaica não havia muitos desníveis sociais por causa da influência niveladora do judaísmo”[...].
A escravidão entre os judeus não era uma prática muito grande pois a maioria dos judeus palestinos eram tidos como cidadãos livres. Na sociedade judaica não havia muitos desníveis sociais por causa da influência niveladora do judaísmo”[...].
Logo, certa
hegemonia era dada aos judeus e assim os sumos sacerdotes permaneciam no poder
ajudando o governador romano. Além disso, como acima supracitado, existiam
outros grupos presentes na sociedade da época.
Constituía
também importância fundamental para sociedade o sinédrio, as sinagogas e o
templo.
Desta forma, os
grupos que compunham Israel nos tempos de Paulo eram formados por: zelotes,
herodianos, centuriões e publicanos, escribas, saduceus, fariseus, samaritanos
e os seguidores de Jesus.
2.1 – Zelotes
Este grupo
originou-se a partir dos fariseus, contudo seu cunho era mais político que
religioso. Era composto em sua maioria por pequenos camponeses e pessoas
oriundas das camadas mais baixas da sociedade que se viam massacradas pelo
fisco.
Ansiavam
destituir Roma do poder e eram contrários ao governo de Herodes na Galiléia. Religiosos
e nacionalistas ao extremo almejavam instituir a monarquia a YHVH, retomando
assim o messianimo do êxodo.
2.2 – Herodianos
Embora não
pudessem ser chamados de um grupo social propriamente dito, eles representavam
a dependência dos judeus aos romanos, uma vez que possuíam o poder da Galiléia
nas mãos. Por caberem a tais a incumbência de capturar agitadores eram
considerados os principais opositores dos zelotes. (Mt. 22.16; Mc. 3:6;
Mc.12:13)
2.3 – Centuriões
e Publicanos
Os centuriões
representavam o poder militar da época. A serviço de Roma comandavam 100
soldados.
Embora a figura
dos publicanos também representasse o poder romano outorgado, sua incumbência
estava no âmbito de recolher impostos e, por tal motivo essa classe era odiada
pelos judeus. (Mt. 9:9; Mc. 2:14; Lc. 5:27).
2.4 – Escribas
Também
conhecidos como doutores da lei, este grupo possuía grande prestígio junto à
sociedade da época.
Por serem
interpretes das escrituras (copistas) dominavam amplo campo do saber (administração,
direito e educação) influenciando assim a escola, o sinédrio e as sinagogas.
Devido ao
“poder” político que possuíam, embora não fossem economicamente os mais
abastados, tornam-se guias espirituais do povo, determinando, até mesmo, regras
para dirigir o culto.
2.5 – Saduceus
Grupo imponente
formado pelos grandes proprietários de terras (anciãos) e pelos membros da
elite sacerdotal. Eram os responsáveis pelo controle do Sinédrio, ou seja, detinham
o poder nas mãos, e para tal tornaram-se os maiores colaboradores do império
romano, fazendo uma política de conciliação temendo perder seus cargos e
privilégios. No âmbito da religião mantinham uma postura conservadora aceitando
somente a lei escrita.
Tratava-se da
seita mais segura da religião judaica (At. 26:5), criada no período anterior a
guerra dos Macabeus, com o propósito de oferecer resistência ao espírito
helênico que havia se instaurado entre os judeus.
Sustentavam a
doutrina da predestinação que consideravam em harmonia com o livre arbítrio.
Acreditavam na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo e na imortalidade
do espírito; criam nas recompensas e castigos da vida futura de acordo com os
atos cometidos em vida.
Contudo, tais
aspectos não representavam a essência da doutrina e sim viver em conformidade
com a lei, indiferente de sua consequência. Por exemplo, para eles, guardar o
sábado (dia do Senhor) era algo extremamente importante não podendo nem ao
menos retirar um inseto pousado sobre a roupa, por ser isto considerado
trabalho, e no dia santo era inconcebível trabalhar.
Embora buscassem
primeiramente as cousas divinas, passaram a amar mais a lei do que a Deus.
Saulo de Tarso, homem do qual este ensaio trata, pertencia a esta seita, contudo,
mostrou-se homem reto e temente a Deus, posteriormente.
2.7. –
Samaritanos
Embora não
pertencessem ao judaísmo propriamente dito, era um grupo característico da
região palestinence. Observavam escrupulosamente o Pentateuco. Frequentavam o
Templo de Jerusalém, mas, não aceitavam os outros escritos do Antigo
Testamento.
Por possuírem
miscigenação com estrangeiros, eram considerados pelos judeus como raça impura
e motivo de contenda dos fariseus para com os novos Cristãos, pois estes admitiam
aos oriundos de Samaria os mesmo privilégios perante a nova doutrina. (Lc. 10:
29-37; 17: 16-18; Jo. 4: 1-42).
Após a ascensão
de Cristo (30 AEC) crescia em números os seus seguidores. Diz a Bíblia que três
mil homens foram batizados no dia de pentecostes.
Tal grupo,
também conhecido com “seita do Caminho”, possuía tudo em comum (At. 2:42-47),
vendiam suas propriedades e bens e distribuíam igualmente entre os menos
abastados, não havendo assim, nenhum necessitado entre eles.
Perseveravam na
doutrina dos apóstolos, na comunhão e nas orações. Em atos 4:4 diz que o número
de convertidos chegou a quase 5 mil homens. Contudo Rodney Stark contesta e
explica tais números em seu livro Crescimento do Cristianismo:
Para um
número inicial, At.1,14-15 sugere que, vários meses após a cruxificação,
havia 120 cristãos. Mais adiante, em At.4-4, menciona-se um total de 5 mil
adeptos.
E, segundo
At. 21,20, por volta da década de 60, havia “milhares de judeus” em Jerusalém
que abraçaram então a fé.
Não se trata
de estatísticas. É que houvera muitas conversões em Jerusalém, que deve ter
sido a primeira cidade cristã, já que ali provavelmente havia não mais de 20
mil habitantes na época – J.C. Russel (1958) estima apenas 10 mil. Como observa
Hans Conzelmann, esses números pretendem apenas “mostrar quão prodigiosamente o
Senhor mesmo está agindo aqui” (1973:63). Com efeito, como nota Robert M.
Grant, “sempre se deve levar em consideração que os números da antiguidade
[...] são parte de um exercício de retórica”
(1977:7-8) e não devem, efetivamente, ser tomados em termos literais.
[...] Até meados do século III, Orígenes admitia
que os cristãos constituíssem tão-somente “uma pequena parcela” da população.
No entanto seis décadas depois os cristãos eram tão numerosos que Constantino
julgou conveniente aderir à Igreja.
Assim
sendo, tomando por base o que diz Rodney pode-se considerar que no ano 34 EC o
número de seguidores de Cristo somavam pouco menos de 1000 adeptos. Contudo, tal fato, não deixa de ser considerado
espantoso devido à opressão desses, sofrida por parte dos governantes e dos
fariseus da época.
Esta é a
sociedade que permeia a perícope de Atos 9: 1-22. No próximo tópico veremos
como era a região em que tais grupos conviviam.
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