Logo, o judaísmo era tido como a religião Nacional embora
possuísse várias correntes. Pode-se observar tal característica com muita
pertinência no livro de Tenney, intitulado, Tempos do Novo Testamento:
“A igreja Cristã nasceu dentro um mundo cheio de religiões que apesar das muitas diferenças entre elas,
possuíam uma característica comum – o esforço para alcançar um deus, um deus
que permanecia essencialmente inacessível. À parte do Judaísmo, que ensinava
que Deus tinha voluntariamente Se revelado aos patriarcas, a Moisés, e aos
profetas, não havia religião que falasse com certeza da revelação divina nem de
qualquer conceito verdadeiro de pecado e salvação. Os padrões éticos correntes
eram superficiais, não obstante o ideal e visão possuída por alguns filósofos,
e quando eles discursavam sobre o mal e bem, eles não apresentavam nenhuma
solução ou mesmo possibilidades de que
um remédio pudesse ser encontrado. Até
mesmo no Judaísmo a verdade tinha
estado obscurecida pela formação de uma crosta de tradições ou
negligenciavam... O paganismo e todas as religiões à parte do conhecimento e fé
da Palavra de Deus sempre produziu uma paródia e uma perversão da revelação
original de Deus ao homem. Isto retém muitos elementos básicos da verdade, mas
eles são distorcidos na prática. Soberania Divina torna-se fatalismo: graça
torna-se indulgência; justiça torna-se conformidade com graças arbitrárias:
adoração torna-se ritual vazio: oração torna-se pedidos egoístas: os
acontecimentos sobrenaturais tornam-se superstição. A luz de Deus é obscurecida
por lenda imaginária e por falsidade sincera. A consequente confusão de crenças
e de valores desnorteava as pessoas que vagueavam por um labirinto de
incertezas. Para alguns, a conveniência era a filosofia de vida predominante;
como não há nenhuma certeza final, também não há princípios permanentes, cada
um vivera ao sabor da vantagem do momento. Prevalecia o ceticismo, os velhos
deuses tinham perdido sua força e nenhum novo deus tinha aparecido. Cultos
particulares e/ou familiares predominavam, utilizado superficialmente pelos
ricos, mas deixava o pobre em seu desespero. As pessoas tinham perdido
completamente o prazer e o objetivo que torna a vida humana algo que vale a
pena ser vivida.
Assim, no mundo religioso da época existiam vários grupos
que embora possuíssem peculiaridades religiosas convergiam para um ponto em
comum; o cumprimento da lei e a adoração a um só Deus. O judaísmo encontrava-se
posicionado em uma tríade: os saduceus, os fariseus, e os zelotes[1].
A tabela a seguir mostra as principais contribuições do
judaísmo:
O Monoteísmo
|
O Sistema
Ético
|
O Antigo
Testamento
|
A Sinagoga
|
àNunca mais depois do
cativeiro babilônico os judeus voltaram à idolatria;
à As sinagogas espalharam o
monoteísmo no império.
|
àO judaísmo ofereceu ao mundo
o mais puro sistema ético da época, dando uma nova perspectiva moral e
espiritual, facilitando a pregação do evangelho.
|
à O povo judeu preparou o
caminho para o cristianismo oferecendo à igreja em formação um livro sagrado,
já pronto e completo, o A.T. utilizado pelos apóstolos ao anunciar o
evangelho.
|
àNasceu durante o cativeiro
babilônico, por causa da ausência do templo;
à Foi o lugar
|
Afora o Judaísmo havia ainda os seguidores de Cristo e o
paganismo por parte de Roma.
Os Saduceus na
religião
Este grupo limitava sua fé às doutrinas que estavam nas
sagradas escrituras e defendia o direito a privada interpretação da lei.
Distinguiam-se dos fariseus por negarem a ressurreição e o juízo futuro
alegando a ausência dessas doutrinas na lei mosaica. Afirmavam que a alma morria
com o corpo (Mt. 22 23-33, At. 23-8), negavam a existência de anjos, dos
espíritos e, do fatalismo em defesa do livre arbítrio[2].
Por conta de negar a existência do sobrenatural, os
saduceus, entravam em conflito com a angeologia do judaísmo ensinadas pelos
patriarcas. Este grupo ainda se contaminou com influência da filosofia grega,
adotando os princípios aristotélicos, recusando-se assim a aceitar qualquer
doutrina que não pudesse ser provada pela razão.
A religião dos
fariseus
A seita dos fariseus foi criada provavelmente no período
anterior a guerra dos macabeus e deu-se com o propósito de oferecer resistência
ao espírito helênico que vinha se manifestando entre os judeus, uma vez que
grande parte estava adotando os costumes da antiga Grécia.
Essa resistência consistia em observar estritamente as
leis de Moisés. Dentre os aspectos religiosos estavam a crença da predestinação
que consideravam em harmonia com o livre arbítrio. Criam na imortalidade da
alma, na ressurreição do corpo e na existência do espírito. Acreditavam nas
recompensas e castigos pelos atos através da vida futura e que as almas dos
ímpios eram lançadas em prisão eterna, enquanto que a dos justos, revivendo,
habitavam outros corpos (At. 23 - 8). Logo, para os fariseus a religião consistia
na pratica de atos externos em prejuízo das disposições do coração.
A interpretação da lei e a sua aplicação aos pormenores
da vida, veio a ser um trabalho de graves consequências, como se pode observar
no excerto de Lucas 6 1:10.
1Aconteceu que, num sábado passando Jesus pelas searas, os
seus discípulos, colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos.
2E
alguns dos fariseus lhes disseram: por que fazeis o que não é lícito aos
sábados?
3Respondeu-lhes
Jesus: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus
companheiros?
4Como
entrou na Casa de Deus, tomou , e comeu os pães da proposição, e os deu aos que
com ele estavam, pães que não lhes era lícito comer, mas exclusivamente dos
sacerdotes?
5E,
acrescentou-lhes: O Filho do Homem é o senhor do Sábado.
6Sucedeu,
que em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um
homem cuja mão direita estava ressequida.
7Os
escribas e os fariseus observavam-no procurando ver se ele faria alguma cura no
sábado, a fim de acharem de que o acusar.
8Mas,
ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão ressequida:
levanta-te e vem para o meio; e ele,
levantando- se, permaneceu de pé.
9Então,
disse Jesus a eles: Que vos parece? É lícito, no sábado fazer o bem ou mal?
Salvar a vida ou deixá-la perecer?
10E,
fitando todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele o fez, e a mão lhe
foi restaurada.
Aqui Jesus os repreende por duas vezes. A primeira por
indagarem a Ele, o porquê, dos discípulos estarem colhendo espigas, mesmo que
fosse para suprir a fome, já que colher era visto como trabalho e, o sábado era
do Senhor e por isso nada faziam a não ser cultuar a Deus (embora estivessem
muito envolvidos no dia santo em tramarem contra Jesus ao invés de estarem no
Templo louvando). Logo, Jesus os repreende dizendo que os fariseus não
examinaram com exatidão as escrituras, pois lá está escrito que Davi tendo fome
comeu do pão da proposição (pão somente dados aos sacerdotes) e ainda deu
aos soldados.
E na segunda repreensão, Jesus os adverte a respeito do
homem com a mão ressequida, afinal de contas, é lícito ao sábado fazer o mal ou
o bem? Salvar a vida ou deixar morrer?
Os fariseus do século I guardavam tanto o dia de sábado
que se alguma pessoa fraturasse o braço ou a perna no sábado somente era permitido
a essa usar uma compressa de água fria, tendo a mesma que aguardar o dia
posterior para colocar uma tala.
Ao guardar a lei acima de todas as coisas, esqueciam-se dos
mandamentos dados por Deus a Moisés, uma vez que deixavam de amar ao próximo,
como fica explicitado no texto de Lucas anteriormente descrito.
Zelotes
Como visto no tópico – política – os zelotes era uma
corrente dos fariseus, mas de cunho político. Lutavam contra os tributos
impostos por Roma, sendo por tal motivo os principais inimigos dos publicanos.
Com respeito à doutrina mantinham-se fieis as leis, assim
como os fariseus, contudo, eram nacionalistas ao extremo.
O Paganismo
Esta era a religião oficial de Roma no estudado período. A
mesma incorporou a doutrina do povo conquistado (Grécia) aos seus costumes,
adotando assim grande parte do panteão e da mitologia grega.
As divindades romanas passavam a ser identificadas com os
deuses gregos, como por exemplo, Júpiter com Zeus; Vênus com Afrodite, etc. Os
romanos também incorporaram certas características como a de um sacerdócio no
qual o Imperador atuava como pontifex maximus (sumo sacerdote).
O senado romano lançou o culto ao Imperador após a morte
de Augusto, sendo tal culto motivo da morte de muitos judeus posteriormente em
66 EC.
A doutrina de
Cristo
Após a morte e ressurreição de Jesus os apóstolos passaram
40 dias sendo instruídos sobre o que haveria de acontecer. Assim voltaram a Jerusalém e cerca de 120 cristãos
aguardaram os acontecimentos vindouros.
Finalmente no dia de pentecostes, cinquenta dias após a
páscoa, a descida do Espírito Santo capacitou
seus seguidores a propagar as boas novas (At. 2: 16-21). Logo, o problema aos
olhos dos judeus e romanos (ou seja, Jesus Cristo) ao invés de findar-se,
propagou-se com mais resignação do que nunca.
Durante alguns anos Jerusalém foi o centro da igreja e muitos
judeus acreditavam que os seguidores de Jesus faziam parte apenas de mais uma vertente
do judaísmo. Suspeitavam que os mesmos estivessem a propagar uma religião de
mistério em torno de Jesus de Nazaré.
Contudo, perceberam que os seguidores de Cristo compunham
não somente uma nova “seita”, uma vertente do judaísmo e sim algo maior e sobre
o qual não possuíam o menor controle. Henry Melvill Gwatkin, in: Early
Church History, pag 18, diz: "Os líderes judeus tinham um medo
de arrepiar, porque este novo e estranho ensino não era um judaísmo estreito,
mas fundia o privilégio de Israel na alta revelação de um só Pai de todos os homens."
Assim, os novos Cristãos[3]
proclamavam com ousadia, pois tinham herdado de Jesus todos os privilégios.
Logo, não eram parte de, mas sim o “Novo Israel” (Ap 3.12; 21.2; Mt 26.28; Hb
8.8; 9.15).
Embora fossem ao Templo para orar, passaram a
compartilhar a Ceia do Senhor em seus próprios lares (At.2:42-46), fazendo-lhes
alusão da Nova Aliança para com o Pai.
Deus operava milagres de curas por intermédio desses
cristãos e por tal motivo, muitos da população criam que estes estavam
verdadeiramente a serviço do Senhor. Contudo, mais uma vez, as autoridades do
Templo, tentaram reprimir o crescimento do cristianismo mandando encarcerar os
apóstolos. Deus então enviou anjos a fim de libertá-los (At. 5:17-20).
Tão grande era o crescimento da Igreja que os discípulos
(apóstolos) tiveram de nomear sete homens para distribuir víveres (provisões)
às viúvas necessitadas. Sendo o dirigente desses homens Estevão, o primeiro
mártir da pós-ascensão.
Este foi o começo do governo eclesiástico da Igreja
primitiva e ponto de partida para o ensaio aqui presente, já que foi nesse
tempo conflituoso que surgiu Paulo, ainda sob o heterônimo de Saulo de Tarso, a
perseguir os primeiros cristãos. Estando Paulo inclusive presente na morte de
Estevão.
Vimos até aqui os aspectos geográficos, econômicos,
políticos e religiosos no tempo do evento, quando Paulo teve um encontro com
Deus no caminho para Damasco. Nossa próxima caminhada é verificar todos esses
aspectos no tempo da narrativa, ou seja, quando a oralidade virou escrita.
[1] Há ainda os
essênios como outra vertente do judaísmo, entretanto, como o mesmo não se
encontra citado no livro de Atos dos apóstolos e por tal motivo não será
abordado neste artigo.
[2] As ações para eles estavam
sujeitas ao poder da vontade de
modo que todo ser humano era a causa dos atos bons; que os males sofridos
resultavam da própria insensatez e que Deus não intervinha nos atos da vida
humana quer fossem bons ou não.
[3] Cristãos – este nome nasceu na Antioquia e
foi dado aos discípulos de Cristo pelos inimigos em sinal de desprezo. At.
11:26. Só é encontrado no Novo Testamento por duas vezes: uma vez na boca de
Agripa II, quando Paulo pregava sobre o arrependimento e a remissão dos pecados
por meio de Jesus Cristo. At. 26: 18, 23 e 28; E a outra vez na carta de Pedro para
Confortar os fiéis que sofriam perseguições. I Pe. 4:16
Fico feliz com uma publicação como essa. A Bíblia é um livro único, por isso deve ser interpretada e estudada com muito cuidado. Parabéns pela qualidade do trablho!
ResponderExcluirObrigada Flávio. Que bom que gostou. Procuro ter todo cuidado na hora de escrever porque não sou nenhuma sumidade no assunto, apenas uma cristã-pesquisadora que resolveu partilhar seus apontamentos. A Paz!
ResponderExcluirmesmo depois de tanto tempo esse material foi excelente para um trabalho acadêmico.obrigado Renata.
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