Permanecemos no estudo de Atos dos apóstolos.
Veremos hoje o contexto econômico e político do tempo do evento, ou seja, da
conversão de Paulo. Posteriormente veremos todos esses aspectos também no tempo
da narrativa, a saber, quando a história foi escrita.
Economia no período pós-ascensão de Cristo
Por possuir
grande diversidade geográfica, os pilares da economia da época eram: a
agricultura e a pecuária.
Já as de
“primeiras grandezas”, tais como oliveiras, figueiras e videiras eram
cultivadas por conta da utilização na alimentação diária, por seu valor
farmacêutico e para liturgia do culto no Templo.
A agricultura de
cereais também era de grande importância, dentre os quais se destacavam a aveia
e o trigo. Sendo o trigo considerado como o alimento mais precioso aos olhos palestinenses,
enquanto que a aveia era destinada aos menos abastados e animais.
Além desses
cereais, cultivavam-se também: lentilhas, favas, cebola, alface, chicória, endivas,
agriões, beldoegras. Aos quais, muitos desses cereais eram usados como base das
ervas amargas na festa do cordeiro pascal.
Logo, podemos
dizer que o forte da economia estava centrado na agricultura da época, ora
voltado para produção de alimentos: trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes,
lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião. Ora focado em cultivos
especiais, voltados para a produção de manufaturas, como árvores e rosas, para
a produção de essências para perfumes.
O Plantio de
alimentos e produção de manufaturas constituía a mola propulsora da
agricultura, representando assim a base econômica da Palestina de 34 EC.
Já no que diz
respeito à pecuária tinha-se uma variedade significante de animais, utilizados para o transporte e cultos
religiosos com o propósito de expiação dos pecados. Para o sacrifício religioso
encontrava-se a criação de touro, carneiros, bodes e pombas. Esses animais eram
de suma importância, pois movimentavam um grande comércio no templo.
O burro e o
camelo eram destinados ao transporte. Este para longas distâncias, principalmente
regiões desérticas, enquanto que aquele para transporte de cargas e pessoas a
curtas distâncias.
Dentre as aves utilizavam-se
galinhas e patos, além, das pombas anteriormente mencionadas.
Alguns povos
(como os samaritanos) também criavam porcos, mais tais animais, eram tidos como
impuros para os judeus.
§
Profissões e comércio
No tempo de
nossa pesquisa, temos como principal profissão o artesanato. O próprio artesão
fazia e vendia suas mercadorias. Naquele tempo todos deviam ter uma profissão,
até mesmos os escribas. Paulo, homem
estudado neste ensaio, fabricava tendas.
As profissões
mais praticadas pelos considerados “doutores da lei” eram: fabricante de prego,
comerciante de linho, padeiro, curtidor, copista, fabricante de sandálias,
arquiteto, comerciante de betume, alfaiate. Já outras profissões eram tidas
como desprezíveis e por tal motivo jamais podiam ser praticadas por homens tão
cultos, como por exemplo, a de tecelão.
A Síria era a
principal exportadora de produtos para Jerusalém, dentro eles, a lã em forma de
tapetes, cobertores e tecidos. Além destes, a venda de unguentos e resina
perfumada também era praticada.
A arquitetura era
outro grande ponto de expansão em Jerusalém, uma vez que a família herodiana
investia demasiadamente em obras no referido período.
Além dessas profissões havia ainda médicos,
barbeiros, lavadeiras de roupas (ocupação tipicamente feminina) e em relação ao
Templo os trocadores (que se ocupavam do dinheiro).
Outras
atividades como, por exemplo, a pesca era praticada e não deve ser desmerecida,
pois possuía grande importância econômica. Devida à hidrografia da região (banhada pelo Mediterrâneo, cortada
por rios e possuindo lagos) existia na Palestina uma grande variedade de
pescado abastecendo a nação e até exportando.
§
Jerusalém: centro comercial da Palestina.
Por conta da
localização geográfica, Jerusalém era o centro do comércio e transações
econômicas. Privilegiadamente fundada entre portos (Ascalon, Jafa, Gaza e Acra), o mar tornava-se uma rota
bastante útil, principalmente com as contribuições marítimas por parte de Roma.
Dois aspectos
contribuíram para que Jerusalém abrigasse essa importante atividade comercial.
Primeiro porque era a capital do Estado e a cidade do Templo e, depois por ser
o centro religioso e político, passando assim a ser economicamente muito
importante. Além disso, abrigava a corte, a aristocracia sacerdotal e também a
nobreza leiga, que traziam consigo grandes recursos financeiros.
Fora Jerusalém,
outra importante cidade, Cesaréia, também era abastada economicamente. Passavam
por esses dois centros soldados, mensageiros, comerciantes, diplomatas, etc. E
por tal motivo, gerava bons dividendos. Dentre os impostos cobrados, existia um
exclusivo ao Templo e que devia ser pago em moeda Tíria[1]
(tetradracma ou estatere). Assim, uma moeda estrangeira se tornou moeda do
santuário.
Além desse
imposto, havia ainda o publicum, imposto este que incidia sobre a compra
e venda de qualquer produto. Essa taxa foi instituída pelos romanos e cobrada
na importação e exportação nas divisas regionais. Os grandes responsáveis pelas
cobranças de tais impostos eram os publicanos.
Contexto
político
Os romanos
permitiam a existência de governantes nativos vassalos de Roma na Palestina. Herodes
era um deles. Dessa forma o senado romano aprovou seu ofício, mas o forçou a
obter o controle da Palestina mediante o poder de armas. Além de conquistar o
poder mediante a força, o fato de ser idumeu[2] também
não o favorecia junto aos judeus.
Embora fosse um
governante astuto, invejoso e cruel, no que diz respeito à política foi
eficiente e tentou após atrozes atos conciliar-se com o povo, reformando e
embelezando o templo de Jerusalém. Deixando após sua morte um grande legado aos
herdeiros.
Dentre as
principais contribuições do seu reinado destacam-se:
TABELA – 2
Pax Romana
|
Livre
Movimentação
|
Ótimas
Estradas
|
àUnidade
política maior uniformidade possível,
sem violar excessivamente os costumes de cada país;
àFacilidade
de acesso aos mais diferentes países do Império.
|
à
Os soldados romanos mantinham a paz nas estradas e não havia mais piratas no
Mediterrâneo;
à
Ficou mais fácil ir de um país para o outro sem riscos de assalto ou guerra.
|
à
Excelente sistema de estradas. Eram de concreto e duraram séculos;
à
Estas estradas foram estrategicamente utilizadas por Paulo para atingir
importantes cidades do império
|
No ano em estudo,
a política se apresentava com o Império Romano de Cláudio, sendo Pôncio Pilatos
Grato procurador da Judéia e Antípas, tetrarca da Galiléia.
Tendo o sumo
sacerdote José Caifás, genro de Anás (Jo. 18:13), como responsável por presidir
o Sinédrio.
Na época em questão o sacerdócio era o principal poder
político, uma vez que atuava como conselheiro junto ao governador romano. Possuía
grande influência sobre a população e era capaz de moldar a opinião pública
(como o ocorrido na crucificação de Jesus).
Além desses poderes, grupos como: fariseus, saduceus,
zelotes e herodianos[3], também
exerciam influência política.
Nesse período religião se confunde com política. Logo,
quem detinha o poder do Templo conseguia manipular o povo. O Templo, a sinagoga
e o sinédrio eram arquétipos desse poder político.
§ Sinédrio
Supremo concílio dos judeus (Assembléia) equivalia ao
senado dos gregos e romanos. Suas atribuições eram de cunho legal e religioso. Composto
por 70 membros cuidadosamente escolhidos, como os ecribas, por exemplo. Possuí
certa autonomia mediante Roma.
§ Sinagoga
Lugar onde se celebrava o culto religioso. Provavelmente
iniciou-se no período do cativeiro babilônico como substituto do Templo. Foi
introduzida por Esdras na Palestina e logo se difundiu por todo Israel.
No século que se ambienta este ensaio surgiu notícias da
existência de sinagogas nos lugares onde havia judeus fora da Palestina. Os
membros (homens da Sinagoga) eram em números indeterminado e sua reunião dava-se
a cada sábado para adoração e, ao quinto dia da semana para ouvir a leitura das
escrituras. Contudo, qualquer pessoa podia entrar na sinagoga e em qualquer
tempo. Tornar-se-ia posteriormente o ponto de referência para o trabalho de
Paulo.
O templo representava o centro da vida judaica da época,
pois era ali que todos os judeus se reuniam (até mesmos os que viviam fora da
Palestina) para prestar culto a Deus. Casa onde o Deus único habitava, era
administrada pelos sacerdotes e estes tinham grande poder sobre o povo,
chegando a julgar quem estava ou não mais perto de Deus, ou seja, eram os
mediadores da pureza de cada um.
Devido a tal autoridade, por parte dos sacerdotes, o
Templo acabou por ser tornar a vida política e religiosa da época. Por tal
motivo, possuía riquezas imensas (considerado o grande tesouro nacional) e toda
a cúpula governamental agia a partir dele. (o sinédrio reunia sacerdotes,
escribas e anciãos). Desse modo a morada de Deus, o lugar de adoração ao Deus Santo
e Puro, tornou-se impuro pela corruptela do governo. (Lc. 19: 45-46; Mt.
21:12-13; Mc. 11:15-17)
Nosso próximo foco é na religião que permeava o tempo do
evento.
[3] Zelotes – representavam o
desenvolvimento na extrema esquerda entre os fariseus. Estavam interessados na
independência da nação e sua autonomia, ao ponto de negligenciarem toda outra
preocupação. Segundo Josefo, o fundador foi Judas de Gamala, que iniciou a revolta
sobre o censo da taxação, em 6 EC. Seu alvo era sacudir o jugo romano e
anunciar o reino messiânico. Eles precipitaram a revolta em 66 EC, que levou à
destruição de Jerusalém em 70. Simão, o zelote, foi um dos apóstolos.
Herodianos –Os saduceus da extrema
esquerda eram conhecidos como os herodianos. Tirando o nome da família de
Herodes, eles baseavam suas esperanças nacionais nessa família e olhavam para
ela com respeito ao cumprimento das profecias acerca do Messias. Eles surgiram
em 6 EC, quando Arquelau, filho de Herodes, o Grande, foi deposto, e Augusto
César enviou um procurador, Copônico. Os judeus que favoreciam a dinastia
herodiana eram chamados “herodianos”. Este grupo é mencionado em Mateus 22:16 e
Marcos 3:6; 12:13.
Saduceus –Este era o partido da
aristocracia e dos sacerdotes abastados. Eles controlavam o sinédrio e qualquer
resquício de poder político que restava. Era os colaboracionistas, a tendência
que favorecia o poder estrangeiro e que se alinhava com ele pelo poder. Também
controlavam o templo. O sumo sacerdote era sempre o líder deste grupo. Era um
grupo fechado e não procurava prosélitos, como o faziam os fariseus.
Fariseus – os fariseus foram o
resultado final do movimento que teve seus primórdios com Esdras, intensificado
pelos hasidins, sob os sírios e romanos. Eles representam aquela tendência, no
judaísmo, que sempre reagiu contra dominadores estrangeiros, mantendo o
exclusivismo judaico e a lealdade à tradição dos pais. Pouco se interessavam no
poder político, mas se tornaram os mentores políticos de Israel. Eles tinham
maior controle sobre o povo do que os saduceus, que eram mais abastados e
politicamente poderosos. Controlavam a sinagoga, e só eles sobreviveram à
Guerra Judaico-Romana de 66-70. Devido à sua profunda reverência para com os
ideais nacionais e religiosos judaicos, e devoção aos mesmos, os fariseus se
opuseram à introdução das ideias gregas, e não deixou de ser natural que se
tornassem o partido reacionário. Para eles, as coisas velhas eram as únicas
coisas boas. Num desejo sincero de tornar a lei praticável dentro do mundo
greco-romano em mudança, os fariseus aderiram ao sistema da tradição dos pais.
0 comentários:
Postar um comentário