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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Economia e Política no tempo de evento - Atos 9: 1-22


Permanecemos no estudo de Atos dos apóstolos. Veremos hoje o contexto econômico e político do tempo do evento, ou seja, da conversão de Paulo. Posteriormente veremos todos esses aspectos também no tempo da narrativa, a saber, quando a história foi escrita.

Economia no período pós-ascensão de Cristo

Por possuir grande diversidade geográfica, os pilares da economia da época eram: a agricultura e a pecuária.


 §  Agricultura

 O cultivo de plantas apresentava duas importâncias, uma no que tangia a economia e outra de cunho religioso. Por exemplo, a plantação de árvores como o carvalho e os terebintos tinha valor determinado pela aplicabilidade, pois serviam para fazer sombra.
Já as de “primeiras grandezas”, tais como oliveiras, figueiras e videiras eram cultivadas por conta da utilização na alimentação diária, por seu valor farmacêutico e para liturgia do culto no Templo.
A agricultura de cereais também era de grande importância, dentre os quais se destacavam a aveia e o trigo. Sendo o trigo considerado como o alimento mais precioso aos olhos palestinenses, enquanto que a aveia era destinada aos menos abastados e animais.
Além desses cereais, cultivavam-se também: lentilhas, favas, cebola, alface, chicória, endivas, agriões, beldoegras. Aos quais, muitos desses cereais eram usados como base das ervas amargas na festa do cordeiro pascal.
Logo, podemos dizer que o forte da economia estava centrado na agricultura da época, ora voltado para produção de alimentos: trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião. Ora focado em cultivos especiais, voltados para a produção de manufaturas, como árvores e rosas, para a produção de essências para perfumes.
O Plantio de alimentos e produção de manufaturas constituía a mola propulsora da agricultura, representando assim a base econômica da Palestina de 34 EC.


 §  Pecuária


Já no que diz respeito à pecuária tinha-se uma variedade significante de animais,  utilizados para o transporte e cultos religiosos com o propósito de expiação dos pecados. Para o sacrifício religioso encontrava-se a criação de touro, carneiros, bodes e pombas. Esses animais eram de suma importância, pois movimentavam um grande comércio no templo.
O burro e o camelo eram destinados ao transporte. Este para longas distâncias, principalmente regiões desérticas, enquanto que aquele para transporte de cargas e pessoas a curtas distâncias.
Dentre as aves utilizavam-se galinhas e patos, além, das pombas anteriormente mencionadas.
Alguns povos (como os samaritanos) também criavam porcos, mais tais animais, eram tidos como impuros para os judeus.
 

§  Profissões e comércio
 

No tempo de nossa pesquisa, temos como principal profissão o artesanato. O próprio artesão fazia e vendia suas mercadorias. Naquele tempo todos deviam ter uma profissão, até mesmos os escribas. Paulo, homem estudado neste ensaio, fabricava tendas.
As profissões mais praticadas pelos considerados “doutores da lei” eram: fabricante de prego, comerciante de linho, padeiro, curtidor, copista, fabricante de sandálias, arquiteto, comerciante de betume, alfaiate. Já outras profissões eram tidas como desprezíveis e por tal motivo jamais podiam ser praticadas por homens tão cultos, como por exemplo, a de tecelão.
A Síria era a principal exportadora de produtos para Jerusalém, dentro eles, a lã em forma de tapetes, cobertores e tecidos. Além destes, a venda de unguentos e resina perfumada também era praticada.
A arquitetura era outro grande ponto de expansão em Jerusalém, uma vez que a família herodiana investia demasiadamente em obras no referido período.
 Além dessas profissões havia ainda médicos, barbeiros, lavadeiras de roupas (ocupação tipicamente feminina) e em relação ao Templo os trocadores (que se ocupavam do dinheiro).
Outras atividades como, por exemplo, a pesca era praticada e não deve ser desmerecida, pois possuía grande importância econômica. Devida à hidrografia da região (banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos) existia na Palestina uma grande variedade de pescado abastecendo a nação e até exportando.


§  Jerusalém: centro comercial da Palestina.
           

Por conta da localização geográfica, Jerusalém era o centro do comércio e transações econômicas. Privilegiadamente fundada entre portos (Ascalon, Jafa, Gaza e Acra), o mar tornava-se uma rota bastante útil, principalmente com as contribuições marítimas por parte de Roma.
Dois aspectos contribuíram para que Jerusalém abrigasse essa importante atividade comercial. Primeiro porque era a capital do Estado e a cidade do Templo e, depois por ser o centro religioso e político, passando assim a ser economicamente muito importante. Além disso, abrigava a corte, a aristocracia sacerdotal e também a nobreza leiga, que traziam consigo grandes recursos financeiros.
Fora Jerusalém, outra importante cidade, Cesaréia, também era abastada economicamente. Passavam por esses dois centros soldados, mensageiros, comerciantes, diplomatas, etc. E por tal motivo, gerava bons dividendos. Dentre os impostos cobrados, existia um exclusivo ao Templo e que devia ser pago em moeda Tíria[1] (tetradracma ou estatere). Assim, uma moeda estrangeira se tornou moeda do santuário.
Além desse imposto, havia ainda o publicum, imposto este que incidia sobre a compra e venda de qualquer produto. Essa taxa foi instituída pelos romanos e cobrada na importação e exportação nas divisas regionais. Os grandes responsáveis pelas cobranças de tais impostos eram os publicanos.
 

Contexto político
 
Os romanos permitiam a existência de governantes nativos vassalos de Roma na Palestina. Herodes era um deles. Dessa forma o senado romano aprovou seu ofício, mas o forçou a obter o controle da Palestina mediante o poder de armas. Além de conquistar o poder mediante a força, o fato de ser idumeu[2] também não o favorecia junto aos judeus.
Embora fosse um governante astuto, invejoso e cruel, no que diz respeito à política foi eficiente e tentou após atrozes atos conciliar-se com o povo, reformando e embelezando o templo de Jerusalém. Deixando após sua morte um grande legado aos herdeiros.
Dentre as principais contribuições do seu reinado destacam-se:


TABELA – 2


Pax Romana
Livre Movimentação
Ótimas Estradas
àUnidade política  maior uniformidade possível, sem violar excessivamente os costumes de cada país;
àFacilidade de acesso aos mais diferentes países do Império.
à Os soldados romanos mantinham a paz nas estradas e não havia mais piratas no Mediterrâneo;
à Ficou mais fácil ir de um país para o outro sem riscos de assalto ou guerra.
à Excelente sistema de estradas. Eram de concreto e duraram séculos;
à Estas estradas foram estrategicamente utilizadas por Paulo para atingir importantes cidades do império


No ano em estudo, a política se apresentava com o Império Romano de Cláudio, sendo Pôncio Pilatos Grato procurador da Judéia e Antípas, tetrarca da Galiléia.
Tendo o sumo sacerdote José Caifás, genro de Anás (Jo. 18:13), como responsável por presidir o Sinédrio.
Na época em questão o sacerdócio era o principal poder político, uma vez que atuava como conselheiro junto ao governador romano. Possuía grande influência sobre a população e era capaz de moldar a opinião pública (como o ocorrido na crucificação de Jesus).  
Além desses poderes, grupos como: fariseus, saduceus, zelotes e herodianos[3], também exerciam influência política.
Nesse período religião se confunde com política. Logo, quem detinha o poder do Templo conseguia manipular o povo. O Templo, a sinagoga e o sinédrio eram arquétipos desse poder político.

§  Sinédrio
 
Supremo concílio dos judeus (Assembléia) equivalia ao senado dos gregos e romanos. Suas atribuições eram de cunho legal e religioso. Composto por 70 membros cuidadosamente escolhidos, como os ecribas, por exemplo. Possuí certa autonomia mediante Roma.
 
§  Sinagoga
Lugar onde se celebrava o culto religioso. Provavelmente iniciou-se no período do cativeiro babilônico como substituto do Templo. Foi introduzida por Esdras na Palestina e logo se difundiu por todo Israel.
No século que se ambienta este ensaio surgiu notícias da existência de sinagogas nos lugares onde havia judeus fora da Palestina. Os membros (homens da Sinagoga) eram em números indeterminado e sua reunião dava-se a cada sábado para adoração e, ao quinto dia da semana para ouvir a leitura das escrituras. Contudo, qualquer pessoa podia entrar na sinagoga e em qualquer tempo. Tornar-se-ia posteriormente o ponto de referência para o trabalho de Paulo.

§  Templo
 
O templo representava o centro da vida judaica da época, pois era ali que todos os judeus se reuniam (até mesmos os que viviam fora da Palestina) para prestar culto a Deus. Casa onde o Deus único habitava, era administrada pelos sacerdotes e estes tinham grande poder sobre o povo, chegando a julgar quem estava ou não mais perto de Deus, ou seja, eram os mediadores da pureza de cada um.
Devido a tal autoridade, por parte dos sacerdotes, o Templo acabou por ser tornar a vida política e religiosa da época. Por tal motivo, possuía riquezas imensas (considerado o grande tesouro nacional) e toda a cúpula governamental agia a partir dele. (o sinédrio reunia sacerdotes, escribas e anciãos). Desse modo a morada de Deus, o lugar de adoração ao Deus Santo e Puro, tornou-se impuro pela corruptela do governo. (Lc. 19: 45-46; Mt. 21:12-13; Mc. 11:15-17)

Nosso próximo foco é na religião que permeava o tempo do evento.












[1] Era o valor pago ao Templo devido à quantia que devia ser reservada, prescrita na Tora.
[2] Descendente de Edom e Esaú.
[3] Zelotes – representavam o desenvolvimento na extrema esquerda entre os fariseus. Estavam interessados na independência da nação e sua autonomia, ao ponto de negligenciarem toda outra preocupação. Segundo Josefo, o fundador foi Judas de Gamala, que iniciou a revolta sobre o censo da taxação, em 6 EC. Seu alvo era sacudir o jugo romano e anunciar o reino messiânico. Eles precipitaram a revolta em 66 EC, que levou à destruição de Jerusalém em 70. Simão, o zelote, foi um dos apóstolos.
Herodianos –Os saduceus da extrema esquerda eram conhecidos como os herodianos. Tirando o nome da família de Herodes, eles baseavam suas esperanças nacionais nessa família e olhavam para ela com respeito ao cumprimento das profecias acerca do Messias. Eles surgiram em 6 EC, quando Arquelau, filho de Herodes, o Grande, foi deposto, e Augusto César enviou um procurador, Copônico. Os judeus que favoreciam a dinastia herodiana eram chamados “herodianos”. Este grupo é mencionado em Mateus 22:16 e Marcos 3:6; 12:13.
Saduceus –Este era o partido da aristocracia e dos sacerdotes abastados. Eles controlavam o sinédrio e qualquer resquício de poder político que restava. Era os colaboracionistas, a tendência que favorecia o poder estrangeiro e que se alinhava com ele pelo poder. Também controlavam o templo. O sumo sacerdote era sempre o líder deste grupo. Era um grupo fechado e não procurava prosélitos, como o faziam os fariseus.
Fariseus – os fariseus foram o resultado final do movimento que teve seus primórdios com Esdras, intensificado pelos hasidins, sob os sírios e romanos. Eles representam aquela tendência, no judaísmo, que sempre reagiu contra dominadores estrangeiros, mantendo o exclusivismo judaico e a lealdade à tradição dos pais. Pouco se interessavam no poder político, mas se tornaram os mentores políticos de Israel. Eles tinham maior controle sobre o povo do que os saduceus, que eram mais abastados e politicamente poderosos. Controlavam a sinagoga, e só eles sobreviveram à Guerra Judaico-Romana de 66-70. Devido à sua profunda reverência para com os ideais nacionais e religiosos judaicos, e devoção aos mesmos, os fariseus se opuseram à introdução das ideias gregas, e não deixou de ser natural que se tornassem o partido reacionário. Para eles, as coisas velhas eram as únicas coisas boas. Num desejo sincero de tornar a lei praticável dentro do mundo greco-romano em mudança, os fariseus aderiram ao sistema da tradição dos pais.

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