Nossa proposta é tirar a poeira de nossas Bíblias que por vezes ficam esquecidas em um canto da estante, ou como “amuleto” aberta em capítulo específico pegando poeira num pedestal, ou ainda sendo aberta somente aos domingos durante o culto. Almejamos através da pesquisa dos conteúdos milenares desse livro ajudar a transformar nossas vidas em vida de verdade, retirando-a do pedestal do homem para nos colocar aos pés do Senhor, nutrindo-nos do amor de Deus.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Método Comparativo nas diversas vozes do texto




Em 2009 um grupo de colegas, estudantes de exegese bíblica decidiu criar este blog intitulado: a Bíblia sem poeira e para nossa infelicidade acabamos por acomodar poeira em nossas bíblias.
Bom, resolvi tirar o espanador do armário e retomar o blog. Então que caia por terra toda poeira anteriormente aqui contida! Que o mesmo venha a ser bênção em sua vida.

Isto posto, segue um ensaio sobre o método comparativo, ou a intertextualidade dos textos. O mesmo será dividido em duas partes. Na segunda constará a aplicação do método propriamente dita. Sendo feita a análise do livro de Daniel capítulo 2 versículos 1-3; 5-6; 10, 12; 14-20; 23-47 em confronto com outros textos bíblicos tais como Isaías, Ezequiel, Apocalipse e outros. Shalom!!!


O Método Comparativo nas diversas vozes do Texto.



            O presente ensaio pretende demonstrar a importância de utilizar o método comparativo para entender melhor os arquétipos das diversas religiões.

            Mas qual a importância de tal método? Que contribuição o mesmo pode apresentar ao leitor comum? Quais as vantagens de sua utilização, por exemplo, no estudo bíblico das Igrejas?

            A resposta é: TODA importância! Um texto como sabemos não é um emaranhado de frases desconexas e que o mesmo é fruto da comunidade que o produziu.     Ao conhecer essa comunidade, torna-se possível entender seu pensamento e sua religiosidade.

            Mas para quê estudar a religião alheia? Em que isso beneficia minha crença? Muitos neste ponto diriam que o melhor é “não se contaminar”.

            Contudo, o fato é que ao estudar a fenomenologia religiosa de diversos povos, pode-se perceber como se dá o contato do homus religiosos com seu credo e quais as diferenças entre as várias religiões. E nesse sentido o leitor só tende a ganhar, uma vez que cresce em conhecimento e pode através de tais confrontos ver reafirmada sua fé; além de aprender a respeitar a liberdade religiosa do próximo.

            Por exemplo, através do comparativismo textual percebe-se que o único Deus libertador em todas as religiões é YHVH, como descrito no livro de êxodo (Deus que se compadece de sua criação e vem em seu auxílio).

Já os deuses de outras culturas criaram o homem para os servirem, por estarem fadados de tantos afazeres, ou por se “alimentarem” da adoração do homem. Assim o o Ser humano não é “a criatura de Deus, feita a sua imagem e semelhança” e sim meramente “um servo” para suprir suas necessidades.

            Pode-se observar também a questão do conflito das sociedades patriarcais e matriarcais, no que diz respeito à cosmogonia de diversos povos. Através de leituras de textos babilônicos como o Enuma Elish (Tiamat) e outros textos mitológicos como oriundos da caldeia (Ishtar e Ninsuna), Asherah em Canaã, Astarté na Síria, Afrodite na Grécia, Vênus em Roma é possível traçar um paralelismo, por exemplo, com gênesis 1 apreendendo assim o momento que as vozes matriarcais foram perdendo valor em consonância com a ascensão do patriarcalismo.

            Vê-se ainda, dentre abordagens infindas, as vozes de outros textos como a epopéia de Gilgamesh  no texto bíblico da narrativa de Noé. Observando-se assim que o dilúvio era uma preocupação abrangente em toda a região da Mesopotâmia.

            Percebe-se através do método comparativo que há duas formas do sagrado manifestar-se no homem, a saber:

De maneira Heterônoma→ na qual o sagrado manifesta-se fora do sujeito. E nesse âmbito temos, por exemplo, o cristianismo, o islamismo, o judaísmo... não importando aqui considerar o local dessa manifestação. Se no monte, rios, ou na cachoeira;



De forma Autônoma → na qual o sagrado está dentro do sujeito, contido nele, cabendo a este uma interiorização profunda a fim de entrar em contato com o seu sagrado. E nesse âmbito temos o budismo, onde cabe ao homem entrar em contato com o seu “eu” interior a fim de encontrar o nirvana.



            É através do comparativismo textual que se pode também entender o momento onde El  torna-se um dei otiosi e em contra partida Ba’al toma seu lugar na adoração do povo cananeu. Ou seja, quando o homem passa a controlar a agricultura o Deus criador deixa de ter seu valor maior agregado, pois nesse momento é necessário um deus que possa suprir as carências da terra, tornando-a próspera ao plantio.

            Ao utilizar o conceito de dei otiosi apresentado por Mircea Eliade é possível avaliar também a vertente do espiritismo defendida por Allan Kardec, o qual se apropriou de vários conceitos positivistas para fundamentar sua religião.

            Observar-se-á o excerto abaixo do livro O Sagrado e o Profano de Eliade que explicita melhor esse conceito.



[...O fenômeno do “afastamento” do Deus supremo revela-se desde os níveis arcaicos de cultura.]

[...O Habitante do Céu, ou aquele que está no Céu é eterno, onisciente, onipotente, criador, mas a criação foi concluída e Deus se isolou dos homens e atualmente está indiferente as coisas do mundo.]

[...o grande Deus celeste, o Ser supremo, criador e onipotente, desempenha um papel insignificante na vida religiosa da tribo. Encontra-se muito longe, ou é bom demais para ter necessidade de um culto propriamente dito, e invocam-no apenas em casos extremos.]



            Nesse sentido, ao comparar o espiritismo com o Cristianismo pode-se observar que embora os espíritas creiam em um deus, o mesmo encontra-se ocioso, uma vez que tal vertente de certa forma defende o autonomismo espiritual, haja vista que cabe ao homem retornar por diversas vezes, através da reencarnação, para a total expurgação de seus pecados e uma posterior evolução, a fim de ir a um plano superior. E nesse âmbito entra toda a importância e aplicação do método comparativo, pois ao confrontar as duas vertentes, pode-se observar que embora digam crer em Jesus o mesmo torna-se dei otiosi para eles, pois deixa de possuir a divindade de ser filho de Deus e passa a ser um exemplo de caridade a ser seguido. A Jesus deixa de ser atribuída a salvação e esta passa a depender única e exclusivamente do homem, retornando diversas vezes à vida até uma evolução total, ignorando-se por completo o plano divino para salvação humana.  

            Mas o método comparativo não é útil somente para o estudo das diversas religiões. Ele é essencial para entender melhor o texto. E assim sendo seu uso na Bíblia e para a Bíblia torna-se de suma importância para compreender melhor as vozes do texto bíblico.

            Por exemplo, a primeira vista o livro de apocalipse pode parecer uma colcha de retalhos, ou seja, complexo demais devido a estrutura textual repleta de metáforas, metonímias etc; ou ainda suas vozes, ora remetendo ao passado, por vezes, o presente e ora ao futuro.

            Mas se o leitor a partir do estudo de apocalipse utilizar o método comparativo com outros livros da Bíblia, como Isaías, poderá melhor compreender o que João pretendia explicitar ao escrevê-lo.

Posteriormente farei essa aplicabilidade do método comparativo, a fim de demonstrar como o aprendizado pode dar-se de maneira mais abrangente através de tal caminho.



Em Cristo,

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